sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Depois do Espetáculo


(SILVIA ORTHOF)

Puxa, os ensaios foram uma barra! A gente começava a ensaiar, mas o problema maior é que tinha gente que não respeita v a os horários. Aí dava bode.
Nunca pensei que teatro exigisse tanta disciplina! E tem dia que baixa aquele cansaço, sobretudo quando começam as briguinhas. Acho que é por
Isso que manter um grupo é dificílimo. Até gente que faz aquele sucesso: de' repente cada um vai para um lado, acaba. Pois aqueles coroas dos beatles, lá da geração passada, com aquele sucesso que tiveram, não aguentaram ficar juntos? .
Com o nosso grupo, também a coisa foi fogo, mas chegamos à estréia. E o que valeu, ai, que coisa boa que foi a estréia! Meu coração, quando entrei em cena e senti aquela luz em cima de mim... Lá na frente, o público. Eu não via direito, porque a luz ofuscava a vista.
Quando entrei em cena, minhas mãos pingavam suor e o coração batia tanto que cheguei a sentir uma tonteira. Tive medo de desmaiar, esquecer, dar-aquele "branco". Aí, tomei fôlego, respirei fundo e me larguei. Foi lindo, lindo, lindo!
Como será que a gente consegue gastar a emoção que cresce e cresce? Estou me sentindo como se fosse uma margarida. Não, eu sou um girassol! A luz do refletor me iluminou, eu sou um girassol! Porque, naquele instante da estréia, ai... Eu deixei de ser uma garota como tantas e fiquei em relevo. E aí, eu só poderia ser igual a um girassol, quando ele sente a luz e, vai virando a cabeleira despenteadamente louca de tantos sonhos e se deixa iluminar, pétalas escancaradas, inteiro.
Estou cansada de me trancar. Por isso amei fazer teatro, porque me descobri a mim, e aos meus amigos. Mesmo com brigas, chegamos lá.
Nem sei se o espetáculo, para um crítico, teria sido bom. Valeu foi o
Processo do trabalho, dia-a-dia da coisa. Nós não tínhamos dinheiro. Aí fomos
Pedindo roupas velhas, restos de fantasias de carnaval... E as pessoas foram ajudando, catando perucas, trapos, franjas. Adoro franjas,amo! Porque as franjas fazem efeitos lindos, tem movimento!
E a vida é movimento!

Nota: Sylvia Orthof, grande escritora que escreve, conta suas historias como se tivesse fritando bolinhos de chuva em sua cozinha. Assim bem aconchegando!

Este trecho vem do livro. Se a memória não me falha! Vale a pena ler

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